terça-feira, 19 de novembro de 2019

Ensaio: Sobre a Mesa os Desafios da Comunidade Brasileira nos Estados Unidos. Dr. Josimar Salum


Ensaio: Sobre a Mesa os Desafios da Comunidade Brasileira nos Estados Unidos. Dr. Josimar Salum (*)

Eis aqui um Diagnóstico bem preciso da comunidade brasileira nos Estados Unidos.

É urgente e necessária a participação das lideranças comunitárias e de todos os cidadãos na discussão, no debate e na busca de soluções para os desafios e problemas da comunidade brasileira dentro da sociedade americana.

Entendo que ainda estamos vivendo um momento muito delicado em relação a comunidade brasileira.

A comunidade brasileira nos Estados Unidos tem vivido um período muito longo de transição:

1. da “ilegalidade para a legalidade”;

2. da percepção tangível do impacto de sua presença numérica notável nas cidades americanas;

3. da necessidade de sua presença participativa saudável e responsável nos Estados Unidos, como condição “sine qua non” de sua própria sobrevivência;

4. E, da possibilidade, cada vez maior, de se tornar uma atração negativa na mídia e entre as autoridades americanas, devido aos problemas sociais a ela concernentes.

Alguns pontos devem chamar a nossa atenção imediata para debates, foruns, seminários, e quem sabe como pontos a serem discutidos em um grande congresso da comunidade brasileira nos Estados Unidos com todos os seguimentos da sociedade. Sim, é exatamente isto que desejo propor: um Congresso Nacional para debatermos a comunidade brasileira dentro dos Estados Unidos.

1 – Criminalidade, especialmente, em relação às drogas.

Jovens brasileiros estão envolvidos cada vez mais em maior número com o furto e o tráfico de drogas:

Isto tem relação direta com o acesso à educação, à instabilidade das relações familiares e o acesso ao emprego legítimo e ao nível de remuneração do mesmo.

Tem relação direta com a prática mística e espiritualista de muitos seguimentos religiosos, entre os evangélicos, inclusive, que dissociam o indíviduo da realidade social para uma vida de contemplação e inércia.

É resultado da aculturação e/ou formação cultural das crianças e adolescentes brasileiros dentro da sociedade americana.

Urge-se criar mecanismos de incentivo para esta geração brilhante de jovens que vai despontar na sociedade americana nos próximos anos, como os melhores em vários níveis de atuação: na cultura, na economia, nas artes, no Governo, na educação, nas igrejas e comunidades, etc.

O crime silencioso e mais perigoso que ainda ocorre no seio da comunidade é a sonegação de imposto de renda. A comunidade de um modo total precisa ser declarante efetiva de imposto de renda, e isto é possível com o pedido do "ITIN - Individual Tax Identification Number" - um documento expedido pelo IRS - Internal Revenue Service (receita federal americana). Com este número, mesmo sendo indocumentado o imigrante declara seu imposto de renda e portador do mesmo pode abrir uma empresa (corporation, LLC e outros) para exercer sua atividade profissional). Sem pagar impostos o imigrante nunca poderá se legalizar nos Estados Unidos. Se você pensa algum dia ter a chance de legalizar neste país precisa fazer suas declarações de renda.

2 – Violência doméstica, principalmente contra a mulher.

Os assassinatos aumentaram ainda que menores em relação às outras nacionalidades e etnias chamam vez em quando a atenção da mídia pelo nível de violência que são perpetrados. A proteção a criança brasileira tem se tornado uma necessidade crescente e as questões do tráfico humano com brasileiras têm alarmado as autoridades brasileiras e americanas.

3- A questão econômica, especialmente ao que diz respeito ao financiamento da casa própria.

Juros exorbitantes foram cobrados e “altos pontos praticados (comissão)” no fechamento dos contratos por agentes financeiros ambiciosos na década passada. Brasileiros inescrupulosos abusaram da comunidade desinformada, que sonhava com a casa própria e foram escravizadas ao pagamento mensal insuportável do “mortgage.” Milhares de brasileiros perderam seus financiamentos com a última crise econômica. As consequências foram devastadoras para centenas de famílias que foram desalojadas, por não terem tido condições de fazerem os pagamentos mensais, além da frustração enorme instalada no seio da comunidade por muitos anos.

Além disso, nos últimos anos milhares de brasileiros “ingênuos” foram fraudados com muitos esquemas de pirâmides, o principal deles foi a TelexFree. Esta lição de que não se deve envolver-se nestas fantasias é difícil de ser aprendida pois lida muito com a ambição pessoal e a ilusão do ganho de dinheiro fácil. Nossa comunidade precisa aprender com os erros do passado para poder vislumbrar um futuro mais promissor.

A questão econômica é porém mais abrangente, pois tem a ver com o conhecimento do jogo do sistema financeiro do país, cuja ignorância pulveriza os ganhos desta comunidade trabalhadora que necessita conhecer bem os mecanismos de investimentos em uma economia cada vez mais globalizada. Não se faz previdência, no preparo para o futuro com um plano adequado de aposentadoria, não se protege a família com seguros de vida, não se pensa muito no envelhecimento certo, e vai se vivendo a vida como se a juventude fosse eterna.

É notável o salto da qualidade econômica da comunidade brasileira onde milhares estão deixando de ser empregados para serem empregadores, com o despontar de centenas de empresas e empreendimentos brasileiros nos mais variados ramos do mercado.

Por isto, urge-se o fortalecimento de mais mecanismos de associação destes empresários para planejamento estratégico, networking, troca de informações e representação e influência no campo da representatividade política.

4 – A questão da Saúde.

Somente para dar alguns exemplos mais alarmantes:

a - A AIDS ainda é um problema serísssimo entre os brasileiros, mesmo que pareça que isto seja uma epidemia do passado.

b - O número de abortos entre as jovens brasileiras tem os níveis da sociedade americana se não pior.

c - A questão da depressão vai além da média da sociedade americana. O suicídio é uma ameaça presente e constante na vida de muitos brasileiros e brasileiras de todas as idades. A saúde mental e emocional de nossos conterrâneos precisa ser priorizada pelos líderes.

d - A carência de assistência médica e odontológica é extremamente grande, e principalmente, no que concerne à saúde preventiva.

A grande maioria dos brasileiros não têm seguro-saúde e não fazem nenhum planejamento adequado de previdência nem nos Estados Unidos muito menos no Brasil.

A demanda de investimentos financeiros do Estado para atender aos brasileiros vai começar a ser percebida – se ainda não foi – e precisamos mostrar que a comunidade brasileira tem a sua contribuição tributária para contrapor a esta demanda. E o modo mais eficaz para evidenciar isto é participar do Censo se identificando como Brasileiro na opção de “outros” na identificação da nacionalidade.

Eu calculo que só em um centro de saúde no Estado de Massachusetts mais de 15 milhões de dólares são gastos atendendo brasileiros. Mas não temos pesquisas nem estudos que mostrem a contribuição tributária dos brasileiros para justificar estes investimentos do Estado. Fui um dos Diretores (o primeiro brasileiro) da Edward Kennedy Health Community Center por sete anos na década passada para poder reapresentar a comunidade e juntamente com a Pra Lilia Cavalcanti e Pra. Geralda Sampaio indicadas por mim para fazerem parte do “Board of Directors” reivindicamos, defendemos e apoiamos a criação da unidade do Centro em Framingham, Massachusetts que atende milhares de brasileiros nas questões de saúde.

5 – A falta de informação da comunidade no que diz respeito aos direitos e as responsabilidades do cidadão.

As relações comunitárias são muito conflitantes e extremamente competitivas.

Esta competição “burra” em todos os níveis:

1. tem gerado a diminuição dos ganhos salariais, pois serviços na área de construção, por exemplo, são oferecidos a preços cada vez menores sem levar em conta a carga tributário e social, como o seguro do empregado (worker’s compensation);

2. tem promovido o isolamento das comunidades em “guetos” – sendo as igrejas a maior expressão deles, pois isolam os brasileiros dentro de seu contexto cultural, denominacional e religioso sem promover participação na sociedade americana;

3. tem culturalmente contribuído para a perpetuação do “complexo brasileiro” de dar jeitinho para tudo, levar vantagem em tudo e o sonho fictício de ganhar dinheiro rápido em três, quatro anos no máximo para curtir o resto da vida.

A questão do emprego, da prática dos salários, da participação empresarial, da dependência dos órgãos de assistência social e os meios legais para a libertação da “marginalidade” no que se refere às leis imigratórias precisam ser tratadas pelas associações comunitárias, pelos consulados brasileiros e pelas igrejas.

Os consulados brasileiros precisam deixar de serem apenas prestadores de serviços para tornarem-se mais conscientizadores dos brasileiros e mais agentes mobilizadores desta interrelação Brasil / Estados Unidos no que diz respeito aos brasileiros que vivem aqui.

As igrejas precisam entender seu papel social desenvolvendo a partir de uma teologia holística mecanismos de participação comunitária.

De fato, somente a intelecção e a proclamação do Evangelho do Reino ao invés da simples repetição do “evangelho religioso da salvação para ir para o céu” leva igrejas a diminuírem suas características como entidades religiosas para tornarem-se mais em agentes de transformação social.

As associações como elementos aglutinadores e de organização aumentarão em número dentro da comunidade brasileira e os mecanismos de prestação de contas que se desenvolverão em suas estruturas inibirão os charlatões, aproveitadores e defensores de causas próprias.

6 – A mobilização dos cidadãos americanos de origem brasileira.

Os brasileiros precisamos de forma organizada e representativa participarmos dos processos eleitorais nas suas cidades, nos Estados e a nível nacional.

O aprendizado da língua inglesa tem atingido cada vez mais maior número de brasileiros promovendo uma integração maior de indíviduos dentro do cenário americano, não obstante o desserviço que as redes de televisão brasileiras nos Estados Unidos causam à população quanto a isto.

A programação destas redes traria sua contribuição se fossem voltadas para a realidade americana onde a comunidade brasileira está inserida e não como uma mera repeditora do Brasil.

7 – As práticas de arrecadação de dinheiro feitas através dos meios de comunicação, principalmente por alguns “radio-evangelistas” – seus meios, os argumentos, as razões, as intenções, os métodos, etc.

Estas práticas cada vez mais frequentes e agressivas vão atrair a atenção das autoridades policiais do Estado, porque são manipulativas, exageradas, persistentes e a maioria ilegais.

A comunidade brasileira, como citamos anteriormente, não pode esquecer dos últimos esquemas financeiros que estampou a todos nós nas manchetes dos jornais americanos.

Ao invés de ignorarmos todos estes temas e ao invés de partirmos para uma defesa emocional de nossas posições e opniões, precisamos sentar e debater seriamente todos estes assuntos com
responsabilidade e altruísmo, porque os brasileiros chegaram nos Estados Unidos há bastante tempo e cresceram em número para ficar.

E finalmente, quanto ao reconhecimento dos brasileiros na sociedade americana não é incomum vermos crianças, adolescentes e jovens brasileiros ganhando os primeiros lugares em concursos na Escola e também bolsas para as universidades devido ao seu desempenho brilhante na educação e na prática de esportes.

Muitas destas crianças, adolescentes e jovens de hoje em pouco tempo serão os novos prefeitos, juízes, deputados e senadores da República.

Pergunto: Já teria nascido ou já estaria vivendo entre os brasileiros algum futuro Presidente americano de origem brasileira? Não duvido disto!

AUDIÊNCIA COM A MINISTRA DAMARES ALVES EM BRASÍLIA NO DIA 6/5/2019 PARA DISCUTIR ASSUNTOS DIVERSOS DAS PAUTA DO MINISTÉRIO, EM ESPECIAL POR UMA MANIFESTAÇÃO INÉDITA DO GOVERNO BRASILEIRO DE RECONHECIMENTO DA COMUNIDADE BRASILEIRA NO EXTERIOR.  A MINISTRA VISITOU A COMUNIDADE BRASILEIRA EM BOSTON NO MÊS SEGUINTE. FOI UM ACONTECIMENTO INÉDITO QUE TIVEMOS A HONRA DE AJUDAR A COORDENAR. A PRIMEIRA MINISTRA DO GOVERNO BRASILEIRO A INTERAGIR COM OS ANSEIOS DA COMUNIDADE BRASILEIRA NO EXTERIOR. 




VISITA OFICIAL A CASA BRANCA EM 11/9/2019 PARA ENCONTRO COM AUTORIDADES DO GOVERNO TRUMP LIDERADA PELOS PASTORES MÁRIO BRAMNICK & LEIDMAR LOPES










(*) Josimar Salum é Consultor de Negócios e Presidente da Youseph & Daniel, Inc - www.yousephdaniel.com

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